segunda-feira, 21 de março de 2011

Estrela *

Numa qualquer manhã, um qualquer ser, vindo de qualquer pai, acorda e vai.
Vai.
Como se cumprisse um dever.

Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos; nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar.
E em seu impessoal desejo latejam todos os restos de quantos desejos ficaram antes por desejar.

Abre os olhos e vai.

Vai descobrir as velas dos moinhos e as rodas que os eixos movem, o tear que tece o linho,
a espuma roxa dos vinhos, incêndio na face jovem.

Cego, vê, de olhos abertos.
Sozinho, a multidão vai com ele.
Bagas de instintos despertos ressuma-lhe à flor da pele.

Vai, belo monstro.
Arranca as florestas com os teus dentes.
Imprime na areia branca teus voluntariosos pés incandescentes.

Vai

Segue o teu meridiano, esse, o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais;
o plano de barro que nunca endurece, onde a memória da espécie grava os sonos imortais.

Vai

Lábios húmidos do amor da manhã,  polpas de cereja.
Desdobra-te e beija em ti mesmo a carne sã.

Vai

À tua cega passagem,a convulsão da folhagem diz aos ecos:
«tem que ser».

O mar que rola e se agita, toda a música infinita,tudo grita:
«tem que ser».

Cerra os dentes, alma aflita.
Tudo grita:
«Tem que ser».

~ maria sofia*

Post scriptum: pq há uma estrela * não sei onde,mas ela existe. e pq cada bocadinho de todo este poema resume d alguma forma um pouco da minha vida. Pq? Pq..."tem que ser" :) e o que tem de ser tem muita força ! ~ Não me esqeço, nem por um segundo, das pessoas que estão e ficarão sempre aqi <3 

1 comentário:

  1. Lindo! Sentido, directo.
    A nossa língua tão bem prosada....os "que" com "u", brutal!

    :)


    PL

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